Queria, embora saiba o que eu posso
Queria dizer que vou bem. Que não acordo no meio da noite sentindo o coração acelerado. Que não penso que os esforços são em vão e eu não tenho receio de diminuir o ritmo para me cuidar melhor. Queria dizer que priorizo minha saúde social, vejo meus amigos com uma frequência decente e vou deixando um pouco a vida para depois, porque afinal, quando não estou trabalhando, as demandas da casa e o planejamento da rotina podem esperar um pouco. Queria dizer que sempre tenho as unhas feitas e os olhos livres de olheiras. Que nunca esqueço nada, porque tenho uma cabeça fresca e organizada, sem sobrecarga ou acúmulo de demandas. Queria dizer que raramente me frustro liderando uma área no mundo corporativo ou simplesmente minha casa, como esposa. Queria dizer que tenho a vida resolvida, apesar das surpresas pelo caminho. Mas não posso me enganar.
O que posso dizer é que os pensamentos construtivos que ofereço aos outros são, também, para mim. Que vivo centrada na mesma consciência que me alerta, mas também me acalma, sempre colocando meus pés firmes no chão.
Posso dizer que meu humor oscila mais do que eu gostaria por conta do trabalho — e nem é necessariamente a pressão ou os prazos, mas a quantidade de demanda que se acumula e dá uma aparência de que nada progride.
Posso dizer que tenho tempo de passear com meu cachorro e regar minhas plantas, e nesses momentos sinto que sou capaz de atingir um equilíbrio longe do perfeito, mas próximo ao possível. E embora as unhas nem sempre estejam esmaltadas, os treinos são cumpridos.
Posso dizer que nada fugiu do controle, embora tudo amoleça um pouco, para se adequar à forma que precisa — ou pode.
Que a vida não é fácil nem na aparência e as tentativas frustram — mas eu continuo torcendo por uma boa noite de sono, porque em toda manhã existe um pouco de fôlego para recomeçar.
Com curiosidade, afeto e uma vontade imensa de aprender,
Carol Barboza