Cumprir a vida (apesar do prazo)
Acordo colocando o relógio no pulso. Determinada pelo que me faz certa, ágil. Vencer o dia é vencer o tempo. Vencer o tempo é cronometrar a vida. Dentro de curtos espaços de respiro. Resistir à passagem do tempo é passageiro. Resistir ao esquecimento é raro. O tempo grita, conduz e aplaude. Ele é quem ganha. Furioso, determina os próximos passos. As novas frustrações. Existir é ver o tempo passar. Para não perder a si, perdendo tempo, cronometra-se a vida. Arranca o coração do peito, ajusta o relógio, quanto tempo até a próxima reunião? Nessa semana não tenho tempo. E não sei quando terei. Vivo querendo encontrar a vida perdida entre os ponteiros desenhando urgências. Mas não acho meu intervalo de tempo sem que tenha que olhar no relógio para saber quanto tempo ainda me resta para cumprir o prazo, a entrega, a vida…
Se o tempo não viesse junto com a sensação desgastante de urgência, trazendo pressões por prazo, idade e agenda, o que você gostaria de cumprir — independente da sua idade ou de quanto tempo leve?!
Já que essa edição está um pouco mais poética, trago também uns versos que escrevi sobre envelhecer de forma gentil consigo mesmo (para encerrar com menos angústia sobre a passagem acelerada do tempo).
envelhecer
acolher o inevitável
no correr do tempo
fingir que os fios brancos da cabeça
dançam numa trama
de caminhos experimentados
anos vividos são tricô de histórias
aquecem o peito
abraçam a cura
na própria força de resistir ao tempo
acumular vida
fios brancos
memórias
rugas
fotografias
saudades
e inevitável
coragem de ser
Com curiosidade, afeto e uma vontade imensa de aprender,
Carol Barboza